sábado, 20 de março de 2010

Solamente acá: Franz Ferdinand no Paraguai, parte 2

Chegamos às 21h em ponto em frente ao Rakiura. Alívio imediato: daria tempo de pegar o show desde o início! A banda de abertura (acho que era Revolver o nome) se apresentava no palco com um rock cantado em espanhol. Quando caminhava da extensa entrada do complexo de golf até a parte do show (com paradas para fotos, logicamente), deu para escutar um cover de Killing In The Name do RATM. Nice.

Um pouco mais além, entrada para as Generales, VIP e nosso querido setor: VIP Gold! Me sentia quase que um episódio de “dia de rico” de algum programa de TV. Chegando a área reservada para nós, mesmo apenas 15 minutos antes do show, tinha ainda lugar na frente do palco. Extraordinário.

Antes, no entanto, o estômago roncava e foi preciso procurar comida. Fui devorar um X-salada, que no lugar era vendido sem salada e com ovo. WTF? Bom, era o jeito que serviam por lá. E aí eu fiz uma pergunta que estava curioso já desde antes de chegar lá, já que não deu tempo de fazer um esquenta: “qual o preço da cerveja?”. E pra minha imensa felicidade: zero! Era free no nosso setor.

Não demorou muito e o Franz entrou no palco! O show começou com No You Girls. Abaixo, reproduzo todo o set-list (sim, eu anotei uma por uma e mostro a prova, haha).

Set-list sendo anotado

1 – No You Girls

2 – Tell Her Tonight

3 – This Boy

4 – Do You Want To

5 – Come On Home

6 – Can`t Stop Feeling

7 – The Dark Of The Matinée

8 – Walk Away

9 – Take Me Out

10 – Ulysses

11 – Turn It On

12 – Michael

13 – The Fallen

14 – 40’

15 – Outsiders

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16 – Jaqueline

17 – Darts Of Pleasure

18 – What She Came for

19 – Van Tango

20 – This Fire

21 – Lucid Dreams (incluindo o maravilhoso electro no fim)

O show foi uma mistura equilibrada dos 3 albuns lançados até hoje. A banda deu uma aula de como se comportar em cima do palco. Nicholas McCarthy não para um segundo e toca com um feeling excelente. Alex Kapranos é um perfeito frontman, canta muito, sabe animar e conversa com a audiência. Robert Hardy é um baixista clássico: tímido, desajeitado, sorri pouco e fica como mero coadjuvante em cima do palco, trabalhando pelo conjunto. O baterista Paul Thomson tem um folêgo incrível, mandando muito bem também nos backing vocals.

Francisco Ferdinando en acción

Um dia inesquecível! Se você ainda está na dúvida em assistir a um dos shows no Brasil, não tenha! O preço é muito mais salgado no nosso país, mas vale cada centavo. O Franz Ferdinand ao vivo está sensacional. Melhor show que já fui que inclui aí, artistas sensacionais como AC/DC, Weezer, Cake, Toy Dols...

No final, fiquei ainda com uma palheta do Nicholas McCarthy. Olha aí:

A volta - Ah,depois de um showzaço desses em que fiquei inteiro molhado de suor tudo o que eu queria era dormir dormir e dormir. Chegamos atrasados na rodoviária e estávamos em cima da hora, novamente. Conseguimos embarcar! Sorte!

Para meu azar, adormeci por apenas 30 minutos e... o "expreso de lujo" quebrou no meio do mato. Tivemos que trocar para outro ônibus que passava por lá e que não tinha mais poltronas disponíveis.

Resultado: 5 horas dormindo de pé em um corredor apertado até Cidade de Leste. Minto, após uma hora consegui um lugarzinho bacana na escada do ônibus e, depois de uma parada, mais tarde dividi uma caixa na cabine do motorista com a Fran, onde deu pra ver mais uma prática "solamente acá": o ônibus parou no meio da estrada para o motorista conversar com um estranho enrolado num cobertor fazendo uma fogueira na beira da estrada. O motora deu dinheiro para o sujeito. Achei que ele tava comprando drogas. Mas eis que o sujeito estranho volta para perto da fogueira e... traz água quente para o tereré do motorista! Bacana, não? Mais uma para o #paraguaifacts

Apesar do(s) incoveniente(s)... faria tudo de novo, óbvio!

Solamente acá: Franz Ferdinand no Paraguai, parte 1


Tem coisas que somente usando o bordão da tríplice fronteira pra definir. O show do Franz Ferdinand em Assunção, capital do Paraguai, foi um deles. A frase “solamente acá” traduz o espírito desse dia único. Parafraseando ironicamente uma famosa campanha publicitária de um cartão de crédito, temos a síntese:

  • Passagem ida e volta Ciudad Del Est/Assunción em ônibus *luxo: R$ 50,00
  • Ingresso VIP Gold: R$ 101,50 (na frente do palco, open bar de Budweiser)
  • Taxis para cruzar a cidade até o local do show: R$ 46 (valor que foi divido em dois)
  • Camiseta falsificada estêncil no varal na frente do show: R$ 10.

Assistir a menos de meio metro o melhor show da sua vida com cerveja infinita? Não tem preço!

O show foi em um campo de golf, batizado de Complejo Rakiura. A estrutura montada estava excelente. Som alto, reguladinho, espaço amplo, comes e bebes a preços bacanas, palco não muito alto e com aquela grade (controlando o espaço entre a audiência e a banda) com uma distância pequena (chega a ser completamente exagerada e incomodativa em alguns shows). Mas antes de chegarmos lá, gostaria de compartilhar o caminho de ida.

A ida – Começou comigo e com uma amiga (Fran, cunhadinha querida que descobriu o as vantagens monetárias desse show) saindo às pressas de nossos trabalhos para ir até Cidade do Leste, pegar o ônibus das 15h30 para a capital paraguaia. Chegamos cravado, em cima da hora.

Agora, explico o asterisco do ônibus “luxo”, colocado lá em cima. Como vocês podem ver na foto acima, realmente, é o que prometia o ticket... mas, se é assim, temo pelos ônibus convencionais dos sofridos hermanos do país vizinho. Chegando à rodoviária (ou melhor, La Terminal de Ómnibus) eis que me deparo com nosso transporte: um microônibus, no estilo van maiorzinha, sem banheiro.

Passado 3 minutos de viagem, ele quebra em meio a um cruzamento. O motorista consegue fazer o transporte voltar a funcionar, mas, para tanto, desliga o ar condicionado e vai na primeira marcha até o terminal mais próximo, o interurbano da cidade, uns 15 minutos dali. Lá trocamos, por outro microônibus, este funcionando normalmente, com ar condicionado para nossa sorte e saúde (estava um calor insuportável). Segue a viagem!

Em meio à estrada ele para no meio do nada, próximo a um matagal e uma casinha. Certo! Estávamos com nossos “permisos”, ou seja, a autorização da migração para entrar no Paraguai, logo, não seria problema de pagar multa ou sofrer deportação caso se tratasse de uma revista da polícia rodoviária.

Minha reação quando a porta se abriu foi um riso frenético: quem entra no ônibus não é um policial rodoviário, mas, sim, uma moça com uma cesta cheio de chipas na cabeça.

Pqp! Solamente acá pro ônibus parar no meio da estrada e a vendedora ambulante de chipa passar de poltrona em poltrona vendendo a mercadoria! Para quem não sabe, a chipa é uma tradicional espécie de pão de queijo preparado com milho, muito popular no Paraguai.

Desespero! Já era 20h45 (o show estava marcado para as 21h30) e não tínhamos chego na rodoviária de Assunção. Conversamos com o motorista igual o filho fala com o pai na viagem: “Tá chegando? E agora? E agora?”. O motorista, gente boa, nos pergunta para onde estamos indo. A Fran, minha intérprete de espanhol, fala para ele o lugar. Ele nos diz que é melhor parar antes do terminal, e nos deixa na melhor rua para chegar ao show da maneira mais rápida. Agradecemos e pagamos o primeiro táxi.

No próximo post: o show!