terça-feira, 15 de junho de 2010

Cala a boca Galvão na Globo: uma aula de assessoria de imprensa

Ontem (16/6), a Central da Copa revolucionou a política da Rede Globo de ignorar a existência de críticas aos célebres da casa, quebrando a política do silêncio mortuário e comentando sobre o CALA A BOCA GALVÃO no ar.

Ao abordar o assunto, focou no aspecto lúdico, fazendo parecer que o sucesso do movimento Cala a Boca Galvão! deriva, exclusivamente, de gerar aqueles bons momentos de humor insano que só mesmo um meme genial ou um episódio de Monty Phyton é capaz de proporcionar! Quase que como se resumisse a isso, com o movimento sendo uma homenagem a Galvão Bueno.

Ao aferir que o sucesso da permanência do CALA A BOCA GALVÃO nos Trending Topics se deve somente pelo lado jocoso, minimizou o fato de que a coisa toda começou por que, e somente por que, o mais pop locutor do canal simplesmente... fala muita besteira! Desviou a atenção da audiência off line do twitter, que já estava se informando do assunto por meio da repercussão fora do mundo do pássaro azul, e jogou uma sombra sobre o âmago do processo do meme: não se trata mais de uma insatisfação da audiência com as asneiras constantemente proferidas pelo locutor, autor de belas frases, como: “Nunca houve uma final de Copa do Mundo sem um dos campeões em campo”. Mas, sim, apenas de preservar os pássaros Galvão! Só faltou pedir com todas as letras (por que, em outras palavras foi exatamente isso que o canal fez), “twitte você também: CALA A BOCA GALVÃO”!

Em síntese, uma ótima estratégia de contenção de crise! Mas, vai além! É sintomática de novos ares. Com essa ação, a assessoria de imprensa global também redireciona o olhar da empresa, via de regra voltada somente para o próprio umbigo, e ensaia uma efetiva, porém ainda tímida, mudança de atitude com o modo que o canal se porta perante a outras mídias, não mais como se fosse imune a todo o mundo exterior.

A atitude de abordar o Cala a Boca Galvão! (mesmo que de forma friamente estratégica, com exposição de um bem instruído Galvão Bueno rindo disso tudo) denota uma mudança de ares no canal.

Aos poucos, a Globo se adequa a um novo modelo de encarar a imagem coorporacional. Começou com o fim do voto de silêncio dos globais, que, de uma mudez incomodativa e depreciativa, agora já podem dar entrevistas de 3 minutos com frequência. Depois, expandiou-se com a presença de Tiago Leifert, que não usa teleprompter e interage com o Pânico na TV no Twitter, revelando inclusive que acompanha o programa e não o Fantástico (coisa que colegas de emissora costumam reforçar nesse canal de comunicação).

Uma mudança de política que, no entanto, não é completa! É tímida. Afinal ainda ignora que não há mais audiência, telespectadores no sentido tradicional, mas, sim, usuários e produtores de conteúdo em potencial acompanhando os programas da TV. Ou melhor... não ignora! Mas, sabe que essa pequena elite esclarecida de instruídos, filósofos, profissionais e estudiosos da comunicação ainda não representa uma ameaça real a hiper realidade global, dando-se ao luxo de reenquadrar o sentido da informação original, produzida no ambiente dessas classes, sem temor de um tiro pela culatra. Obviamente, mais preocupada em fazer a cabeça da fiel audiência massiva, que ficou sabendo do CALA A BOCA pelos meios tradicionais, do que com a reação de repulsa da elite bem informada das redes sociais.

Agora, qual será o resultado de tudo isso... só acompanhando os próximos capítulos dessa novela!

3 comentários:

Diego Knak disse...

P.S: Tiago Leifert é filho do diretor comercial da Rede Globo Gilberto Leifert. O guri é talentoso sim, mas não veio do nada, já é produto da casa.

guto disse...

bem lembrado, Diego. assim fica bem mais fácil...

Garon Piceli disse...

Primeiramente, compartilho da mesma satisfação de ver a Globo se remoendo no seu "cantinho", sentada logo alí, como se fosse a Cláudia. Depois, não deu como esconder, as câmeras da FIFA filmaram a gigantesca faixa "CALA BOCA GALVÃO" e a Globo transmitiu até para aqueles que nem sabiam da existência do "HELP US SAVE", logo mais foi ridículo ver o Galvão falando que apoia o movimento dos "BIRDS". Combinaremos, "que foi deprimente?"
Belo texto, Augusto